HISTÓRIA 2017-04-03T04:32:31+00:00

História

O Pio Brasileiro e sua trajetória pelas paragens romanas

A história do que viria a ser o Pontifício Colégio Pio Brasileiro começou ainda na segunda metade do século XIX, quando os clérigos brasileiros compunham, com os colegas hispano-americanos e filipinos, o alunado do Pontifício Colégio Pio Latino.

De fato, o Pio Latino, como o Colégio ficou conhecido, passou a acolher, no decorrer de várias décadas, um considerável número de seminaristas, oriundos de diversas dioceses brasileiras. Lá se formou, além de muitos padres, um consistente número de bispos e arcebispos. Dentre eles, três receberam o título de Cardeal: D. Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, D. Sebastião Leme da Silveira Cintra e D. Alfredo Vicente Scherer. É bom recordar que D. Joaquim Arcoverde foi o primeiro latino-americano a ser distinguido pela Igreja com tão alta honraria.

Com o passar dos anos, porém, o número dos estudantes do Pio Latino continuava crescendo. Foi quando os responsáveis por aquela instituição julgaram ser o momento de encaminhar um possível desmembramento para ela. Essa ideia encontrou o apoio do Papa Pio XI e a colaboração efetiva do Geral da Companhia de Jesus, Padre Vladomiro Ledockowski, mesmo porque eram os jesuítas que, desde os primeiros anos, dirigiam aquela importante casa de formação. Por outro lado, os prelados brasileiros, que já há muito tempo vinham alimentando o sonho de um Colégio eclesiástico próprio, na Cidade dos Papas, assumiram com entusiasmo, sob a liderança de Dom Sebastião Leme, essa importante causa.

O Pio Brasileiro

– Nascimento

No Natal de 1927, nossos bispos enviaram ao clero e aos fiéis do Brasil uma Carta Pastoral Coletiva, apresentando as razões que justificavam a construção de um colégio próprio, em Roma, e, ao mesmo tempo, lançavam uma Campanha Nacional para recolhimento de fundos, a fim de realizar o ambicioso projeto. Em 1929, depois de superados todos os entraves, foi lançada a primeira pedra, iniciando-se, logo em seguida, a construção do edifício. Cinco anos mais tarde, a 03 de abril de 1934, celebrou-se sua inauguração. A turma fundadora, formada por 34 padres e seminaristas, saiu do Pio Latino, donde há meses aguardava ansiosamente aquele momento. Como no Colégio anterior, também aqui a direção coube aos jesuítas.

– Durante o inverno da II Guerra Mundial

Daí para frente, os estudantes foram aumentando, até ao advento da Segunda Guerra Mundial, em 1939. Durante o período da guerra, esse número se reduziu a apenas 12 estudantes, assim mesmo porque já não havia condições seguras para o retorno deles à pátria distante. Passada a guerra, porém, o movimento, se inverteu. Assim, já no ano acadêmico de 1954-1955, o Pio Brasileiro abrigava a maior turma de sua história, até hoje: 130 estudantes.

– Na primavera do Concílio Vaticano II

Na década de sessenta, no decorrer do Concílio Vaticano II, os residentes de então não só tiveram a alegria de conviver com o Episcopado brasileiro, presente, em Roma, por largas temporadas, mas também a oportunidade de participar de conferências e debates, envolvendo os maiores teólogos da época, como Rahner, Congar, De Lubac, Chenu, Ratzinger, Schillebeeckx e outros. Muitos dos padres de hoje, que tiveram a ventura de serem estudantes do Pio Brasileiro, naquela época, ainda falam com emoção da extraordinária experiência de Igreja que vivenciaram.

– Dificuldades

O pós-Concílio, além da salutar renovação que desencadeou em vários setores da Igreja, também provocou, com sua novidade, uma profunda crise em muitas de suas estruturas. Os Seminários e as Casas de Formação, em geral, também em decorrência de outros fatores, foram atingidos profundamente. Por toda a parte, aconteceu um esvaziamento nas instituições formativas e, no Brasil, as coisas não aconteceram diferentemente. Os reflexos dessa crise logo se fizeram sentir também no Pio Brasileiro. O alunado começou a diminuir e, como acontecia por toda parte, cresceu bastante o clima de insatisfação e contestação.

No entanto, pouco a pouco foi-se recuperando o clima saudável de antes e o número dos estudantes, a partir da década de noventa, foi sempre aumentando, até superar a casa de 120, nos primeiros anos do século XXI.

– Uma história de muitas histórias

Embora a maioria dos padres provenha de dioceses do Brasil, o Colégio vem acolhendo, sobretudo a partir dos anos oitenta, estudantes oriundos de outras nações, quase sempre de países latino-americanos ou da África Portuguesa. Nos últimos anos, também foram recebidos alguns representantes do longínquo Timor Leste, antiga colônia de Portugal.

Nos seus oitenta e dois anos de existência, já passaram pelo Colégio mais de 2200 estudantes, uns ainda seminaristas, outros já presbíteros, muitos dos quais residiram nele, por duas ou mais temporadas. A grande maioria ocupou ou ocupa atualmente funções importantes no magistério eclesiástico, na direção e formação dos Institutos Filosóficos e Teológicos, nos Seminários ou em outros setores importantes das dioceses espalhadas pelo Brasil e também em outras regiões do Mundo. O número dos ex-estudantes ordenados bispos já se aproxima dos 150. Destes, sete já atingiram o cardinalato: D. Agnelo Rossi (também foi estudante do Pio Latino), D. Serafim Fernandes de Araújo, D. Geraldo Majella Agnelo, D. Odilo Pedro Scherer, D. João Braz de Aviz, D. Raymundo Damasceno de Assis e D. Sérgio da Rocha.

Um ex-estudante, Pe. João Bosco Penido Burnier, turma de 1934, depois jesuíta, deu sua vida pela causa da justiça, ao ser barbaramente assassinado em Ribeirão Cascalheira, MT, a 12 de outubro de 1976. De outro, o antigo Bispo de Garanhuns, D. Francisco Expedito Lopes, assassinado por um sacerdote tresloucado de sua diocese. Recentemente foi aberta a sua causa de beatificação e canonização. Também de D. Luciano Mendes de Almeida, que foi Diretor de Estudos do Colégio, na década de sessenta, se introduziu a causa de sua beatificação.

– Atualmente

Em 2014, dois importantes acontecimentos marcaram a vida do Pontifício Colégio Pio Brasileiro: a celebração de seus oitenta anos de fundação, em 03 de abril; e a transferência, em 30 de setembro, da direção do Colégio, até aquele momento sob a responsabilidade da Companhia de Jesus, para uma equipe de presbíteros diocesanos, escolhidos pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Com a devolução à CNBB da responsabilidade pela condução do Colégio, a Companhia de Jesus encerrou um período de oito décadas de acompanhamento dos seminaristas e padres brasileiros, desde a inauguração do mesmo.

Durante a cerimônia de transferência das responsabilidades pela condução do Pio Brasileiro, a Presidência da CNBB quis registrar, numa placa aposta no Salão de Atos, seu reconhecimento e agradecimento, na pessoa do Prepósito Geral da Companhia de Jesus, Pe. Adolfo Nicolás Pachón, S. J., aos jesuítas. Na mesma ocasião, foram descerradas as fotos de todos os reitores do período, desde o primeiro, Pe. Riou, até o que encerra a série, Pe. João Roque Rohr, S. J.

Atualmente a Diretoria do Colégio é formada pelo padres Geraldo dos Reis Maia (Reitor, Arquidiocese de Uberaba, MG), Domingos Barbosa Filho (Diretor de Estudos, Diocese de Oeiras, PI), Antônio Reges Brasil (Diretor Espiritual, Arquidiocese de Pelotas, RS) e Olindo Furlanetto (Ecônomo, Arquidiocese de Manaus, AM).

Adaptação de um texto redigido por:

P. Geraldo A. Coêlho de Almeida, S. J.